segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

Tormentos: Da urbanização


Tormentos: Da urbanização

Não sei, ainda, como farei para conseguir expor tudo que penso e que sei. Como falo das coisas que existem mesmo parecendo não existirem, não sei bem. Posso começar por alguma coisa, a história. A história é algo extremamente delicado para ter-se acesso a toda sua produção, no entanto podemos buscar esse acesso assim como os céticos faziam em suas buscas zeetéticas. O próprio ceticismo quando na boca dos civilizados está sujeito a má interpretação. Como agora me disponho a julgar a interpretação de terceiros. Mas o meu julgamento está bem fundamentado. Novamente julgo. Pronto, não tenho outra opção a não ser começar a explicar o porquê que essa confusão que estão lendo não está tão confusa na minha mente carregada por ensinamentos. 


Há cerca de três meses aconteceu algo que me fez acordar, como dizia Kant, de meu sono dogmático. Acabei meu relacionamento, meu primeiro relacionamento. Não sei o que Kant pensaria se soubesse que um romance seria capaz de tal feito, mas este é o emblema, o romance. O romantismo já se dava antes do Kant, e hoje, à milhares de quilômetros de distância de onde surgiu historicamente, sou afetado.

O homem é afetado e afeta, o vínculo dessa relação tende a produção. O romantismo já se encontra como estrutura e a cada dia vamos ter mais certeza disso. Assim como a relação humana produz, a própria produção pode afetar as relações humanas. No meu caso, quando terminei meu relacionamento, mudei de reprodutor para produtor. No entanto, para que esse parágrafo seja inteligível, preciso esclarecer o contexto do que digo.

Toda estrutura se revela na reprodução, seja no discurso, no comportamento, ou nas diversas relações com o mundo. E as estruturas são resultados de processos históricos que se fundam nas relações humanas ou nos meios de produção. Sendo assim, o romantismo é uma estrutura que a partir de sua fundação sobreviveu e hoje reproduzo ela em mim. Seja em casa, desde pequeno, com os meus pais, ou depois nas propagandas midiáticas, o romantismo sempre esteve lá, e talvez não seja tão surpreendente que ele tenha me mantido no sono. Contudo, falar sobre eu requereria tempo e disposição.

Acordado desse sonho dogmático, fui me procurar, estudar, pensar. Sair de onde eu estava sendo mantido preso, na internet. Feito isso, a velocidade com que eu começara a interpretar a realidade acelerou, tudo começava a se revelar, o véu que diziam ter nas coisas fora caindo. E eu me impressionava assim como ainda estou me impressionando.

As pessoas urbanizadas, as que mais tem contato com a mídia, as que sentem sua existência institucional, essas são as mais medrosas e vigaristas possíveis, estão sempre a vigiar. Nunca andaram por todo o meio urbano em que vivem e mesmo assim insistem em afirmar coisas que nem mesmo sabem explicar o que sejam. Essas pessoas são as que mostram que uma cidade realmente está dando certo.

É comum nos primeiros sistemas metropolitanos as cidades não serem planejadas, até porque não se tinha como se basear em diferentes metrópoles. Por isso, toda metrópole não planejada já foi uma pequena cidade, pouco urbanizada e com uma determinada periferia suburbana. Conforme a urbanização toma conta da cidade, a periferia muda de localização e tende a se afastar de modo que a área urbana seja sempre mais próxima do centro. Com isso, as pessoas que antes residiam uma periferia, hoje residem um bairro urbanizado e com melhor acesso ao centro, consequentemente essas pessoas deixam de agir como se estivessem na periferia, mudam seus comportamentos a ponto de, com o tempo, nem se lembrarem de como era a vida periférica devido a grande mudança que ocorre. Mesmo que haja metrópoles planejadas, estas não estarão isentas de guetos, como acontece em Campo Grande.

O fenômeno urbano, com seu desenvolvimento, é acompanhado por uma educação civilizada que se caracterizará por uma dissolução da instituição pessoal. Ou seja, a pessoa, quando em contato com o urbano e com sua educação, está sujeito a se dissolver em sua instituição a ponto de não conseguir se identificar e se definir. Portanto, para exemplificar, as pessoas ditas urbanizadas são aquelas que estão civilizadas, educadas com a educação urbana, que vem com a sua moral e costume social.

Educação é como a interpretação da realidade chegará a alguém. A educação contém informações da produção humana, seja técnica ou histórica. Mas quando é selecionado um determinado número de informações para manipular a interpretação da pessoa, isso se chama ideologia, um falseamento da realidade sem necessariamente ter informações falsas.

Logo, a urbanização, com sua educação ideológica, civilizará todos que tiverem contato. Os que não tiverem contato com a urbanização, ou que tiverem um contato menor, esses se frustrarão, se tornando, por vezes, criminosos. No entanto, os criminosos não são tão simples e lineares, para explicá-los, deverá ser entendido até mesmo o meio rural que historicamente passou por diversos processos de deturpação do sistema feudal.

Os ribeirinhos, exemplo de descendentes do feudalismo, esses, quando no governo de Dilma Rousseff, foram obrigados a deixarem suas residências e coagidos a habitarem propriedades privadas urbanas, tiveram um choque cultural, a educação que tinham não condizia com a educação urbana. Não conheciam o crime urbano, que está diretamente relacionado ao sistema capitalista de produção.

As pessoas mais civilizadas serão mais medrosas e vigilantes, serão guiadas a um falso senso crítico que é opinativo e sem boa interpretação. E no que diz respeito a interpretação, todo homem tem capacidade para tal processo, no entanto, a proficiência da interpretação ocorre com o acumulo de informações consistentes, que não se limitam ao tecnicismo e sim à qualquer tipo de aplicabilidade, ou seja, à qualquer tipo de produção.

Vejo hoje um culto à domesticidade, onde até os produtos são visados para a domesticação dos costumes. Em meu momento, coisas como netflix, ifood, sistemas de entrega de drogas etc, são comuns. As pessoas estão tendendo a sair cada vez menos de suas casas, tudo favorecido à revolucionária tecnologia midiática que chamamos de internet. Esta foi responsável pela velocidade de informação que passamos a documentar online, no entanto, já não se entende como nas suas origens. Hoje, a internet é resumida às redes sociais, onde o trânsito de falsos sensos críticos (opinião) ocorre comumente.

Em meio ao escasso sistema de transporte urbano, surge em minha época o Uber, sistema parecido com o de táxi que funciona de maneira menos burocrática, fazendo com que o transporte seja barateado. Esses aperfeiçoamentos só farão com que entendamos cada vez mais como está a sociedade, isso se todos estiverem dispostos a interpretar. Não é difícil de notar que mesmo o Uber sendo prático, ele serviu para que as pessoas lucrem com pessoas, e que em datas periódicas haverá um maior fluxo das pessoas nas ruas, porém esse fluxo será de uma específica característica.



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