Tormentos: Da urbanização
Não
sei, ainda, como farei para conseguir expor tudo que penso e que sei.
Como falo das coisas que existem mesmo parecendo não existirem, não
sei bem. Posso começar por alguma coisa, a história. A história é
algo extremamente delicado para ter-se acesso a toda sua produção,
no entanto podemos buscar esse acesso assim como os céticos faziam
em suas buscas zeetéticas. O próprio ceticismo quando na boca dos
civilizados está sujeito a má interpretação. Como agora me
disponho a julgar a interpretação de terceiros. Mas o meu
julgamento está bem fundamentado. Novamente julgo. Pronto, não
tenho outra opção a não ser começar a explicar o porquê que essa
confusão que estão lendo não está tão confusa na minha mente
carregada por ensinamentos.
Há
cerca de três meses aconteceu algo que me fez acordar, como dizia
Kant, de meu sono dogmático. Acabei meu relacionamento, meu primeiro
relacionamento. Não sei o que Kant pensaria se soubesse que um
romance seria capaz de tal feito, mas este é o emblema, o romance. O
romantismo já se dava antes do Kant, e hoje, à milhares de
quilômetros de distância de onde surgiu historicamente, sou
afetado.
O
homem é afetado e afeta, o vínculo dessa relação tende a
produção. O romantismo já se encontra como estrutura e a cada dia
vamos ter mais certeza disso. Assim como a relação humana produz, a
própria produção pode afetar as relações humanas. No meu caso,
quando terminei meu relacionamento, mudei de reprodutor para
produtor. No entanto, para que esse parágrafo seja inteligível,
preciso esclarecer o contexto do que digo.
Toda
estrutura se revela na reprodução, seja no discurso, no
comportamento, ou nas diversas relações com o mundo. E as
estruturas são resultados de processos históricos que se fundam nas
relações humanas ou nos meios de produção. Sendo assim, o
romantismo é uma estrutura que a partir de sua fundação sobreviveu
e hoje reproduzo ela em mim. Seja em casa, desde pequeno, com os meus
pais, ou depois nas propagandas midiáticas, o romantismo sempre
esteve lá, e talvez não seja tão surpreendente que ele tenha me
mantido no sono. Contudo, falar sobre eu requereria tempo e
disposição.
Acordado
desse sonho dogmático, fui me procurar, estudar, pensar. Sair de
onde eu estava sendo mantido preso, na internet. Feito isso, a
velocidade com que eu começara a interpretar a realidade acelerou,
tudo começava a se revelar, o véu que diziam ter nas coisas fora
caindo. E eu me impressionava assim como ainda estou me
impressionando.
As
pessoas urbanizadas, as que mais tem contato com a mídia, as que
sentem sua existência institucional, essas são as mais medrosas e
vigaristas possíveis, estão sempre a vigiar. Nunca andaram por todo
o meio urbano em que vivem e mesmo assim insistem em afirmar coisas
que nem mesmo sabem explicar o que sejam. Essas pessoas são as que
mostram que uma cidade realmente está dando certo.
É
comum nos primeiros sistemas metropolitanos as cidades não serem
planejadas, até porque não se tinha como se basear em diferentes
metrópoles. Por isso, toda metrópole não planejada já foi uma
pequena cidade, pouco urbanizada e com uma determinada periferia
suburbana. Conforme a urbanização toma conta da cidade, a periferia
muda de localização e tende a se afastar de modo que a área urbana
seja sempre mais próxima do centro. Com isso, as pessoas que antes
residiam uma periferia, hoje residem um bairro urbanizado e com
melhor acesso ao centro, consequentemente essas pessoas deixam de
agir como se estivessem na periferia, mudam seus comportamentos a
ponto de, com o tempo, nem se lembrarem de como era a vida periférica
devido a grande mudança que ocorre. Mesmo que haja metrópoles
planejadas, estas não estarão isentas de guetos, como acontece em
Campo Grande.
O
fenômeno urbano, com seu desenvolvimento, é acompanhado por uma
educação civilizada que se caracterizará por uma dissolução da
instituição pessoal. Ou seja, a pessoa, quando em contato com o
urbano e com sua educação, está sujeito a se dissolver em sua
instituição a ponto de não conseguir se identificar e se definir.
Portanto, para exemplificar, as pessoas ditas urbanizadas são
aquelas que estão civilizadas, educadas com a educação urbana, que
vem com a sua moral e costume social.
Educação
é como a interpretação da realidade chegará a alguém. A educação
contém informações da produção humana, seja técnica ou
histórica. Mas quando é selecionado um determinado número de
informações para manipular a interpretação da pessoa, isso se
chama ideologia, um falseamento da realidade sem necessariamente ter
informações falsas.
Logo,
a urbanização, com sua educação ideológica, civilizará todos
que tiverem contato. Os que não tiverem contato com a urbanização,
ou que tiverem um contato menor, esses se frustrarão, se tornando,
por vezes, criminosos. No entanto, os criminosos não são tão
simples e lineares, para explicá-los, deverá ser entendido até
mesmo o meio rural que historicamente passou por diversos processos
de deturpação do sistema feudal.
Os
ribeirinhos, exemplo de descendentes do feudalismo, esses, quando no
governo de Dilma Rousseff, foram obrigados a deixarem suas
residências e coagidos a habitarem propriedades privadas urbanas,
tiveram um choque cultural, a educação que tinham não condizia com
a educação urbana. Não conheciam o crime urbano, que está
diretamente relacionado ao sistema capitalista de produção.
As
pessoas mais civilizadas serão mais medrosas e vigilantes, serão
guiadas a um falso senso crítico que é opinativo e sem boa
interpretação. E no que diz respeito a interpretação, todo homem
tem capacidade para tal processo, no entanto, a proficiência da
interpretação ocorre com o acumulo de informações consistentes,
que não se limitam ao tecnicismo e sim à qualquer tipo de
aplicabilidade, ou seja, à qualquer tipo de produção.
Vejo
hoje um culto à domesticidade, onde até os produtos são visados
para a domesticação dos costumes. Em meu momento, coisas como
netflix, ifood, sistemas de entrega de drogas etc, são comuns. As
pessoas estão tendendo a sair cada vez menos de suas casas, tudo
favorecido à revolucionária tecnologia midiática que chamamos de
internet. Esta foi responsável pela velocidade de informação que
passamos a documentar online, no entanto, já não se entende como
nas suas origens. Hoje, a internet é resumida às redes sociais,
onde o trânsito de falsos sensos críticos (opinião) ocorre
comumente.
Em
meio ao escasso sistema de transporte urbano, surge em minha época o
Uber, sistema parecido com o de táxi que funciona de maneira menos
burocrática, fazendo com que o transporte seja barateado. Esses
aperfeiçoamentos só farão com que entendamos cada vez mais como
está a sociedade, isso se todos estiverem dispostos a interpretar.
Não é difícil de notar que mesmo o Uber sendo prático, ele serviu
para que as pessoas lucrem com pessoas, e que em datas periódicas
haverá um maior fluxo das pessoas nas ruas, porém esse fluxo será
de uma específica característica.
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